Quarta feira,  30 de maio de 30 2018/Foto Antonio Lacerda CFE/reprodução 

 

A crise das duas últimas semanas para muito além das suas diferentes causas possíveis e do conflito dialético patente entre os dois brasis que se entrechocam, se xingam mutuamente e possuem visões absolutas e completamente antagônicas da realidade, revela uma verdade mais óbvia, e talvez por isso mesmo menos perceptível por todos.

Como é fácil parar o Brasil! Basta que o sistema de transporte entre em colapso, seja por uma greve premeditada, seja por qualquer catástrofe natural ou mesmo provocada pelo homem. O mundo inteiro, na verdade, entraria em colapso em tais hipóteses. Não é uma questão exclusiva dos brasileiros, nem consequência direta da incompetência do governo. A falta de planejamento e inexistente visão de longo prazo da nossa sociedade até podem ter contribuído para o caos. Mas a verdade é que esse é um dos perigosos gargalos da globalização.

Neste mundão já sem fronteiras, onde a tecnologia das comunicações vence com aparente facilidade todas as barreiras da distância; onde os dois extremos do planeta podem se comunicar em tempo real, e por isso mesmo fazer negócios ao vivo; em que a cadeia de produção é fragmentada e por isso diversos itens de uma mesma coisa são fabricados em lugares distintos para serem montados em um terceiro lugar ainda mais distante que todos os demais; onde são as vantagens econômicas, medidas pelo baixo preço da mão-de-obra e pela redução da carga tributária de cada país que determinam o lugar e o modo de produção das riquezas; um mundo sem distâncias é ao mesmo tempo um mundo cada vez mais dependentes não exatamente dos caminhoneiros, mas na realidade, dos meios de transporte mecânicos e do aumento do consumo dos combustíveis fósseis. Em uma palavra: um mundo antiecológico

Dito assim, podemos com facilidade afirmar que o mundo contemporâneo é um mundo cego pelo lucro, fascinado pela virtualidade de um universo eletrônico, em que as coisas não são propriamente de verdade e cada vez menos comprometido com o equilíbrio ambiental e espiritual do planeta como um todo e de cada indivíduo isoladamente.

A greve dos caminhoneiros do Brasil, expõe a fragilidade do planeta inteiro, a ausência de verdadeiro compromisso ambiental da economia como um todo e da eminente possibilidade de breve rompimento do frágil equilíbrio não só ecológico, mas igualmente econômico e social em que todo o planeta está perigosamente envolvido.

Falar em conceitos como o de valorizar a produção e o consumo local, o da agrofloresta, do consumo racional dos recursos naturais e da necessidade geral de mudança dos paradigmas da economia mundial não é um simples discurso ecológico de uma classe de pessoas minoritária e isolada da modernidade do mundo. Não é conversa de quem pretende graciosamente renunciar aos pseudo confortos trazidos pela tecnologia, nem muito menos pretensão de recusa aos avanços da ciência. Mais que tudo isso, é uma contingência de sobrevivência da vida planetária e por conseguinte da possibilidade de a própria humanidade como um todo e cada indivíduo isoladamente, poderem continuar sua existência terrena.

É uma lástima que tenhamos de perder mais essa oportunidade para enxergarmos o verdadeiro problema a nossa volta, ao invés de nos distrairmos em debates inúteis a respeito de intervenção militar, ódio de classes e xingamentos baratos a um governo natimorto.

Jorge Emicles

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